Sobre

A voz do Brasil

Embora eu não tenha nascido em Ribeirão Preto, nasci em Ourinhos,SP fui praticamente criado em Ribeirão Preto desde, diria , os 4 anos de idade. Por isso me considero da terra. Nasci no dia 14 de Abril de 1954, com lua em Escorpião e o ascendente em Virgem, e obviamente regido pelo signo de Áries. E talvez por ser o dia 14 de abril um dia dedicado a todas nações do mundo, me dei bem nas minhas andanças pelas Américas do Centro e do Norte.

Saí pro trabalho cedo. Com 12 anos já era office-boy de uma rede de lojas onde minha irmã era a contadora e o rádio aconteceu por acaso. Vivia na rua Tibiriçá, no centro. Um dia, um amigo meu de adolescência (tinha 17 anos na época) me convidou pra acompanhá-lo até a Rádio Renacença, que era na Visconde de Inhaúma. Ele iria fazer um teste pra ser locutor.

Lá, na recepção, eu conhecí o Alvaro Neto, locutor, jornalista, com o qual fiquei batendo um papo. Minutos depois ele me convidou pra fazer o teste também, com aquele jeito que ele tinha de falar, sorrindo e falando ao mesmo tempo. Encurtando a estória, a culpa foi do Alvaro Neto, quase perdi o amigo, eu passei no teste e ele não!

Daí em diante fui conhecendo outras rádios, me lembro que a Brasiliense (isso tudo era rádio AM, era só o que tínhamos) era a rádio “tchan” da época, o meu amigo Nelson Araújo era a voz padrão, se quisesse se meter naquele time tinha que caprichar no microfone modelo RCA, tipo jacaré, senão não, nem pensar. O Odilon fazia dupla com o Araujo e eram as vozes da moçada que curtia o que havia de melhor da música internacional.

Aí veio a 79, me meti a fazer uma imitação do Adelzon Alves (Rádio Globo Rio) e deu certo. Quebrando toda a rigidez da estrutura da rádio do Sr.Otávio, tempo bom. Oportunidades surgiram e junto com o meu grande amigo Adalberto Valadão, partimos pra Rádio Cultura e numa ousadia faziamos vozes pra Rádio Renascença, então pertencente a UNAERP, pra pagar a Faculdade de Direito. Foi aí que me formei em 1978, em Direito, e comecei planejar minha viagem. Viajar pra algum lugar, tava cansado de me alimentar de experiências internacionais alheias, era o Waldice Marcel me contando sobre sua passagem nos EUA, um comissário de bordo da antiga Panam, nativo de RP, John Paul Roxo e suas estórias, as vezes contadas por outros. Tudo isso me fazia voar longe.

Em junho de 1979, acompanhado de uma namorada me metí num avião da Panam e fui pra Miami. Me lembro bem, fui de terno e colete, mole? Aquele rapaz de RP, com 70 quilos (hoje 114 …) que raramente ia a SP , nas asas da Panam… Era a primeira vez que eu iria trabalhar, fora do ambiente de rádio, gravadora (Decson) e jornais, depois de minha experiência de office-boy, 13 anos depois. Não havia rádio pra se trabalhar em Miami, TV a cabo era sonho, e eu resolvi não voltar pra RP. Decidi ficar até onde fosse possível.

Eu não conhecia a parte da manhã do dia normal de uma pessoa, acostumado com meu programa de rádio, depois da faculdade, nunca dormir antes das 3 da manhã, era rotina. Grandes papos na Pizzaria Bambino, na São Sebastião, com os amigos. Enfim, foi um tremendo reajuste no sistema nervoso, levantar em Miami Beach as 6:30 da manhã, pra apanhar um ônibus que me levaria pra “downtown” (centro) Miami e conectar com outro que me levaria até um depósito de um exportador, perto do aeroporto internacional de Miami, eram 2 horas de viagem, de segunda a sexta. Tudo novo, pouco inglês, tudo diferente, me atraía mais e mais.

Batia a vontade de voltar, mas eu ficava preocupado em ser chamado de medroso, e outros possíveis predicados e ai então ficava. Ia pra praia em Miami Beach e ficava admirando os aviões cruzando em direção ao Atlântico e me imaginava de novo em Ribeirão.

Aprendia inglês na porta do hotel (pensão) onde morava na Ocean Drive, em South Beach, hoje o paraiso Art Deco com Versacce e outras mansões, na época, 1979, era um paraíso de velhinhos americanos que vinham do norte pra se aquecer no sol da Florida e morrer. Era rotineiro vir pra casa à tardezinha e saber que o Mr.Smith do 103 tinha falecido. Eu aproveitava a paciência dos velhinhos e a solidão em que eles viviam pra fazer amigos e aprender o idioma. Me lembro de uma senhora bem velhinha, americana do norte, que tinha sido professora de inglês para americanos e que se embrenhou a me ensinar o idioma como se fosse nos seus áureos tempos, só um detalhe: se eu tivesse dúvidas não haveria tradução!

Entre aulas de inglês com as sexagenárias e minha experiência de caçador de corações em RP, achei uma namorada, uma americana chamada Garnet English, eu namorava com lágrimas nos olhos, toda a minha eloquência em Português passava pela garganta como a areia na ampulheta, apertada e pobre…mas voltamos a nos encontrar em Nova Iorque.

Me mudei pra Nova Iorque em 1980, seis meses depois de ter chegado a Miami, outra grande experiência. Lá me tornei oficialmente residente norte-americano obtendo o tão desejado “green card” que veio depois do meu casamento com uma norte-americana.

Quando ingressei na Petrobrás, em 1982, em Houston,TX, onde fiquei uns 4 anos, apareceu a primeira oportunidade de voltar pro rádio, uma universidade de Houston tinha um espaço pra um programa de música brasileira e eu fiz o programa piloto, em inglês. Tudo poderia ter ido mais adiante se nao fosse a falta de música brasileira no repertório da universidade.

Este ano completou 24 anos que estou nos EUA, em junho. Como diz o Roberto Carlos, “muitas emoções..”. Filhos nascidos aqui, hoje cidadão americano. Foram 25 anos vividos ai e 24 aqui. Tô igual político, no muro. Voltei mesmo a gravar e até aparecer no vídeo quando eu comecei a trabalhar numa produção local aqui em Miami da Luqui TV, era uma produtora da ex-mulher do Luciano do Valle, a Maria do Carmo Fulfaro, tinha a Silvia Vinhas também e eu comecei a gravar os comerciais do ” canal”, a programação ia ao ar todos os dias das 9 às 10, dependendo do dia até as 11 da noite. Era a informação a que os brasileiros tinham acesso todas as noites sobre o que estava acontecendo no Brasil com um atraso de até de 48 horas.!! Fazer o que?

Era o que se podia oferecer, fitas vindo por malote pra serem feitas as cabeças pela Maria do Carmo e a Vera Nicareta. E era bem feitinho, briga pra se arrumar patrocínio..eu apresentava o Esporte Total às 5as. feiras. Cheguei até ficar meio popular no centro de Miami com os lojistas, centro que hoje está morto.

Foi quando o Discovery lançou o canal no Brasil 1994/1995 e eu fui chamado pra fazer um teste e passei. Sou a voz oficial do canal desde 1995, são 8 anos “só no Discovery Channel”! Na verdade não é só no Discovery Channel que estou fazendo aniversário…estou na Sky como a voz oficial, junto com a Vera Nicaretta, desde 1997 e na MGM desde 1998. Gravo tambem as chamadas do canal de “cartoons” para adultos chamado Locomotion. A Cinemax de vez em qundo grava comigo tambem. Fui muito tempo também locutor de chamadas da ESPN International e abrí e fechei a PSN, canal de esportes que teve vida curta por problemas de desfalque.

Muita gente boa voltou pro Brasil. Falando em abrir e fechar teve também a gloriosa abertura da CBS, para a qual fui o locutor de chamadas desde a sua abertura com plumas e paites (não em mim mas no canal…) Eliakin Araujo, Leila Cordeiro, tudo durou pouco. Embora eles estejam aqui ainda, não mais no ramo de TV ou jornalismo.

A TV a cabo para o Brasil teve um sobe e desce bem vertiginoso entre 1999 e 2001. Eu vivo exclusivamente dos canais e agências pra quem eu gravo, mas garanto que o orçamento não é mais das “vacas gordas”. Foi. Hoje, graças à Internet, em muitos casos, a presença física do locutor já não se faz tão importante. Na minha casa tenho meu estúdio, de onde gravo pra MGM e muita coisa do Discovery Channel.

Uma vez perguntaram pro Tom Jobim porque ele não morava na França e ele respondeu que poderia morar na França, na Inglaterra, nos EUA, quem sabe, mas ele gostava mesmo era do cheiro da terra, do canto do pássaro, da chuva que caía no quintal da casa dele. Recentemente tenho tido este tipo de reflexão. O carinho com que as pessoas te tratam no Brasil é único no mundo. Quem sabe? Aquela estória de que a vida dá voltas, será que é verdade?